Quantcast
Channel: Música: notícias, festivais, lançamentos - Cultura - iG
Viewing all articles
Browse latest Browse all 1679

Com quase 80 anos, Serguei recebe o iG e diz: "Amo sexo; até hoje sou perfeito"

$
0
0

Nina Ramos

Cercado por quatro cachorros (um deles chamado Fiuk), cantor se recupera de uma anemia e fala sobre sexo, homossexualidade, Janis Joplin e declara: "Não existem mais cantoras no Brasil"

“Você me dá licença? Eu ainda não comi nada hoje e preciso almoçar. Você se importa?”, disse Serguei ao recepcionar a equipe do iG em sua casa em Saquarema, no Estado do Rio de Janeiro, cidade onde mora há 32 anos. De calça jeans, regata branca e chinelo de dedo, o cantor que faz parte da história do rock no Brasil engoliu com refrigerante cinco comprimidos que toma diariamente e comeu um prato de arroz com feijão, macarrão e legumes. Nada mal para quem precisou ser internado em abril deste ano com anemia profunda e desidratação aguda.

“Se eu estou em pé aqui hoje com esse prato na mão, devo a Deus em primeiro lugar, e depois ao Márcio. Não foi fácil me aturar com aquele negócio. E eu sei que sou teimoso. Ele fica bravo de vez em quando, mas no fundo é tudo besteira. Eu digo isso para todo mundo. Aqui é a casa dele”, afirma Serguei sobre o parceiro, enfermeiro autodidata e faz-tudo Márcio Roberto, 38 anos. É ele quem cuida do roqueiro, que em novembro completa 80 anos, e também da manutenção da casa, conhecida como Templo do Rock, onde Serguei mora há sete anos.

Paulo Ghiraldelli: O que sabemos sobre a capacidade de sedução?

Patrimônio da cidade, o local é um grande acervo de tudo o que Serguei viu, ouviu e vivenciou na vida. Por todos os cantos, em todas as paredes, estão espalhadas fotos de encontros históricos (com Jimi Hendrix e Janis Joplin, por exemplo), recortes de jornal e pôsteres e bandeiras de seus ídolos. Os maiores são Marilyn Monroe e a “santíssima trindade”: Jimi Hendrix, Jim Morrison e sua musa Janis Joplin.

Serguei faz questão, depois do almoço, de explicar as principais “obras” para o iG. Márcio diz que o roqueiro não sofre mais com problemas de saúde, mas os 80 anos castigam a memória - e Márcio ajuda a resgatar algumas lembranças.

A parceria começou quando Márcio era garçom em um shopping da cidade. Serguei batia cartão no local e ficava horas contando histórias. Daí para Márcio receber um convite para visitar Serguei foi um pulo. “Mas as pessoas de cidade pequena moldam muito as coisas…”, ele disse, para Serguei completar: “As pessoas acham que todo mundo é gay. Eu e o Márcio somos amigos. O homossexualismo não tem nada a ver, é atração sexual. O principal na vida é ser feliz. Viemos ao mundo para isso. Se você vivesse no tempo em que eu vivi…”.

Márcio foi morar com Serguei quando viu seu estado debilitado. Foi ele quem internou o artista no Hospital Público de Saquarema, em abril. “Ele comia muito mal. O Serguei não tem absolutamente nada de saúde. As pessoas mais pobres de espírito chegaram a falar que ele tinha até Aids. Não, ele não tem nada. Mas ele não comia. Do jeito que estava, ia acabar pifando. De líquido, o único que ele conhece é refrigerante e se chama Coca-Cola. Isso não dá nutrição nenhuma. Suco, vitamina, água… Ele não gosta de beber água. Com muita insistência, persistência e dando esporro mesmo, como se fosse uma criança, ele bebe água”, falou.

A internação deu novo gás para Serguei e oficializou a condição de Márcio. “Eu não sou um cara mascarado. Há uns quatro meses ele me paga uma quantia que não vem ao caso”, afirmou. Sobre dinheiro, aliás, ele reforça que Serguei precisa de ajuda (apesar de não pagar nenhuma conta devido à casa ser “bancada” pela prefeitura da cidade). “Eu já pedi para a Prefeitura mandar uma pessoa aqui para me ajudar a trocar telhas, porque estamos com goteira e infiltração. Muitas coisas aqui estão esquecidas.”

"Até índio me pediu para tirar foto"

De fato, a casa precisa de uma reforma imediata. Serguei até autorizou e reconheceu em cartório a campanha do Facebook “S.O.S. Serguei - A Melhor Idade do Rock”, que recolhe doações de material, remédios e dinheiro para o cantor. Outra fonte de renda seriam os shows que Serguei fez com a banda Pandemonium, mas ele conta que a relação com o grupo não anda bem. “Acho que não estou mais com eles. O último show, em Porto Velho, estava lotado. Até índio me pediu para tirar foto. Mas acho que não estou mais com eles, não. Eles não me falam nada. Falta transparência”, disse.

Márcio completa: “Não adianta o cara querer usar a imagem do Serguei, pagar um cachê de R$ 600 para ele ir sozinho, sem assistência. Ninguém se preocupa com a alimentação dele. Só se preocupam em ensaiar, fazer o show direitinho e colocar o dinheiro no bolso”, desabafou.

“Sobre ser avô do rock? Eu morro de rir”

Na semana em que o Rio recebe mais uma edição do Rock in Rio, Serguei garante que não sente falta do festival - ele abriu a segunda edição do evento e participou da terceira. “Eu até me encontrei com o dono… Como é o nome dele? O Medina. Ele até falou qualquer coisa, mas até agora não chegou convite nenhum. Foi um lero-lero qualquer. Mas, ah (faz sinal de tanto faz com as mãos), eu já fiz dois, né? Me joguei do palco. Eu já senti aquelas emoções todas. Não sinto falta de convite nenhum.”

Sobre o título de avô do rock, ele debocha: “Eu morro de rir. Até a Rita (Lee) é avó”. O tour continua pelo quarto do roqueiro, seu maior santuário. É lá que Serguei passa boa parte do seu dia. Segundo Márcio, ele evita tomar sol (“diz ser alérgico”) e prefere assistir à TV deitado na cama, coroada por uma bandeira de Morrison na cabeceira.

"No Brasil, não existem cantoras"

Na parte lateral do quarto, exibe em uma arara suas roupas de shows. No meio das peças, a blusa que usou no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel chama a atenção, com a frase “eu comi a Janis Joplin”.

E comeu mesmo, Serguei? “Ela era fantástica. Nunca mais vai existir essa voz, aquela loucura toda. O meu pai gostava muito dela, porque ela gostava de mim. Claro que não namoramos, naquela época não existia coisa séria”, despista, para dar sequência ao pensamento com uma polêmica:

“O Brasil não tem cantora. Não existe mais. Cantora tem de cantar, e elas não cantam, porra. Quem viu as cantoras que eu vi sabe que hoje não existe mais aquelas vozes, como as das meninas do rádio”.

“Amo sexo. Até hoje eu sou perfeito”

A idade não afetou a disposição de Serguei para falar de assuntos como sexo. Durante o papo no segundo andar da casa, em uma espécie de loft com uma TV, ele relembra o desprezo do pai quando começou a aparecer em casa com “amigos”.

“Eu tive várias namoradas, mas comecei a achar todas muito chatas. Mulher é chata. Eu prefiro muito mais uma reunião com quatro, cinco caras… Eu me integro muito mais. Eu sou muito mais do masculino, talvez por isso tenha essa coisa do homossexualismo”, disse.

“A pessoa pensa que o sexo é a ereção e tudo. Quando eu fiz 60 anos, falei para o médico que eu estava arrasado, porque estava com medo de não ter mais sexo, que é uma coisa que eu amo. Ele deu uma gargalhada e disse: ‘Serguei, o tesão não está aqui (aponta para a calça), e sim aqui (aponta para a cabeça). É por isso que até hoje eu sou perfeito. Falando com respeito, eu fico assim (faz com o braço o gesto para indicar o pênis ereto) até hoje. E olha que eu sou bem exagerado!”

Exagerado para falar e também para demonstrar que a saúde está 100%. Deitado em um cobertor de oncinha, Serguei joga as pernas para o alto e faz a posição de vela da ioga para comprovar a força que ainda tem: “Eu me sinto com 20 e poucos anos. Às vezes com 17 anos… Eu não tenho essa coisa de idade. Não sinto nada que me impossibilite de ter alegria”.

“Não uso droga porque eu uso a cabeça”

Quando o assunto é drogas, Serguei afirma que usou maconha apenas uma vez. E só. “Eu detesto. Ficava rindo de todo mundo. Achava uma babaquice. Eu sou um espírito e não vou esculhambar com a casca que tenho, com essa máquina que deve ser caríssima. Eu já quase passei para o outro lado. Uma vez, um médico exagerou na anestesia e comecei sentir os pés gelados. A morte chega pelos pés”.

Tem medo da morte? “Não, mas eu gosto da vida. É a mesma coisa que você morar em um bairro que adora e ser obrigado a mudar para um local que não conhece”, respondeu. “Eu não sou contra nada. Eu não uso droga porque eu uso a cabeça. Eu gosto da vida. E se eu gosto da vida, por que vou matá-la a tiros e facadas?”

A visita segue para o final com o aviso de que o táxi que iria levar Serguei ao oftalmologista estava na porta. “Preciso colocar meus sapatos. Você quer mais alguma coisa?”. Sim. O que ainda quer fazer na vida, Serguei? “Um próximo show. Eu já vi muita coisa nessa vida. Quando se tem 80 anos, já se viu muita coisa. Eu só agradeço ter dentro de mim uma pessoa como eu”, disparou, vaidoso, na companhia dos cachorros Joelma, Elis, Ohana e Fiuk (este último em homenagem ao filho do Fábio Jr.: “Me encontrei com ele no camarim e me ajoelhei diante da beleza”). “Tchau, obrigado, muito prazer. Yeah!”.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 1679