Susan Souza
Atração do festival Lollapalooza, em abril, músico capixaba fala sobre o disco "Vista Pro Mar" e influência de Guilherme ArantesA ideia era superar a "crise do segundo disco" com um novo trabalho. E que fosse ensolarado, com músicas que pudessem "ser ouvidas ao lado da piscina". Sons de gaivotas e ondas do mar, melodias alegres, batidas dançantes e um familiar sintetizador marcam a aflição criativa e transição de Silva no novo disco, "Vista Pro Mar".
O cantor Silva
Foto: Rui Aguiar/Divulgação
O cantor Silva
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Capa do disco "Vista Pro Mar", do cantor Silva
Foto: Divulgação
O cantor Silva
Foto: Reprodução/Facebook
Inspirado em temas leves e com o incentivo do irmão Lucas, parceiro nas composições, Silva mostra sonoridades mais animadas com a intenção de se diferenciar do primeiro disco, "Claridão" (2012). Naquele, Silva apresentava-se dançante, mas em faixas que ele próprio classifica como "mais densas" e "difíceis de trabalhar" quando fazia shows para públicos maiores.
Agora com mais visibilidade, a nova fase parece pedir ao artista capixaba um pouco mais de movimento. "Tocar as canções mais introspectivas em lugares mais barulhentos me dava um pouco de agonia", conta, em entrevista ao iG. As 11 faixas de "Vista Pro Mar" continuam a namorar um "dream pop" e a MPB de antes, mas com um sabor mais marcado de pop music. A única convidada é Fernanda Takai, do Pato Fu, em dueto na faixa "Okinawa".
Leia abaixo a entrevista com Silva.
iG: Em material de divulgação do disco, você afirma que estava "vivendo a crise do segundo disco". Por quê?
Silva: Acho que todo mundo passa por isso. Pensava que fosse só um clichê, aquela coisa batida. Eu duvidava, achava que não fosse ser tão difícil. Tem também essa coisa do primeiro disco, estava mais tranquilo em casa, tinha tempo. Já para fazer o segundo disco, foi enquanto estava na estrada, tinha menos tempo, prazos mais curtos, mais pressão. Mas consegui driblar essa crise.
iG: Também no material de divulgação, você diz que sentiu que esse disco precisava ter um clima mais "para cima". Pode explicar?
Silva: Quando você faz um disco, tem de fazer músicas de que goste muito, porque você vai tocar as mesmas canções por muito tempo. Ao vivo, algumas funcionavam melhor. As mais melancólicas e introspectivas não funcionavam tão bem. E também tem a coisa de não querer se repetir, fazer parecer que é a mesma música. Eu não aguentaria o mesmo humor. Tocar as canções mais introspectivas em lugares mais barulhentos me davam um pouco de agonia.
iG: Isso aconteceu quando fez shows em festivais?
Silva: Não sou DJ, mas tenho cabeça de DJ. Tenho essa coisa de botar uma música na casa dos amigos e, às vezes, quando estou em um festival, é um ambiente mais disperso, muita coisa ao mesmo tempo te diverte. A música densa nem sempre funciona, não combina muito com o ambiente. Acho que essas músicas mais para cima acabam sendo mais funcionais.
iG: Você já tocou no Abril Pro rock, no Popload Festival e tocará no Lollapalooza. O que muda na carreira do artista quando passa a integrar grandes eventos?
Silva: Tem um lance de observação do próprio trabalho. Sou muito autocrítico, tenho até que dar uma equilibrada para não passar do ponto. Comecei a observar o trabalho das bandas, principalmente as que vem de fora, que chegam com uma luz bonita, tudo muito amarradinho. Comecei a me preocupar mais com o visual do show.
iG: Como você classifica seu trabalho? Tem influência de Guilherme Arantes?
Silva: Não saberia definir meu som em um gênero só. Sou superfã de Guilherme Arantes. Um dia ele brincou comigo e disse: "Ouvi falar que você não gosta de mim". Quando falam (da influência) do Guilherme, eu gosto da época (das músicas) de novela mesmo, aquelas melodias cheias de teclados. Gosto da comparação, fico até lisonjeado. Uso muito sintetizador no meu som e no Brasil isso não é tão usado quanto o violão, e a referência ao Guilherme se torna inevitável. O ano de 2013 foi o que eu mais conheci (a obra de) João Donato. Estava interessado em ouvir coisas leves, mais praia.
iG: Por que se mantém cantando em português?
Silva: Quando você vai se aproximando da estética pop com (letras em) português, eu acho lindo, mas é um pouco cruel para trabalhar. Quando você vai para o mundo pop, você corre o risco de soar um pouco cafona. Abri mão de umas cinco músicas para esse disco porque na hora em que entrava o vocal, soava esquisito, porque não estava acostumado com a ideia. Ainda não descobri se vou lançar (essas músicas) daqui a um tempo.
iG: Há outras colaborações em vista?
Silva: Estou fazendo uma versão para um disco em homenagem ao Nelson Motta. Foi ele que selecionou uns artistas de que estava gostando no momento. Vou gravar "Marina no Ar", música que o Nelson fez com o Guilherme Arantes. O Tom Zé me convidou para uma participação em seu disco novo, que não sei quando vai sair.