Susan Souza
Cantor grava DVD para comemorar 50 anos de carreira e fala ao iG sobre funk, Roberto Carlos e diz que não tem substitutoAos 77 anos, o cantor Agnaldo Timóteo não tem receio de dizer o que pensa, além de defender que sua geração de artistas está sob risco de extinção. "Roberto Carlos, eu, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol e Nilton César estamos sem substitutos na música brasileira", conta ao iG.
O cantor Agnaldo Timóteo
Foto: Marcela Tavares
Agnaldo Timóteo em época de campanha a vereador, em 2012
Foto: Alessandro Torres/Sigmapress/AE
Agnaldo Timóteo afirma que não tem substituto na música brasileira
Foto: AE
Agnaldo Timóteo comemora 50 anos de carreira
Foto: Divulgação
Agnaldo Timóteo durante cerimônia de posse dos 55 vereadores de São Paulo, em 2009.
Foto: AE
Comemorando 50 anos de carreira com um DVD que será gravado nesta sexta-feira (11) em São Paulo, o cantor comenta o título do projeto: "50 Anos de Estrada Asfaltada". "Seriam estradas bem mais pavimentadas com o apoio da Rede Globo. Imagina sobreviver 50 anos sem isso? É um milagre."
A gravação do DVD será no Theatro São Pedro, em São Paulo, cidade que não o reelegeu, em 2012, para a Câmara dos Vereadores. Para o evento musical comemorativo, Timóteo planeja um figurino impecável. "São roupas decentes, nada sofisticado. O público tem o direito de ver o artista vestido decentemente."
O DVD terá a participação da velha guarda de cantores românticos, como Cauby Peixoto, 83 anos, Angela Maria, 84 (para quem Timóteo trabalhou como motorista no começo da carreira), Alcione, 66, Claudette Soares, 76, e Martinha, 64. No repertório, estão as faixas "Azul da Cor do Mar", "Meu Grito" e “Os Brutos Também Amam”, além de canções em inglês, italiano, francês e espanhol.
Timóteo é mineiro de Caratinga e começou a carreira musical em programas de rádios locais. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, vendeu seus primeiros discos de mão em mão, como ainda faz com o intuito de "dar uma aula para as gravadoras". A primeira aparição de destaque na televisão foi no programa "Rio Hit Parade", nos anos 1960, na extinta TV Rio.
Leia abaixo a entrevista com Agnaldo Timóteo.
iG: Como você avalia os "50 anos de estrada asfaltada"?
Agnaldo Timóteo: (Na gravação do DVD) estarei vivendo um desses momentos iluminados. Olha só que contradição. É evidente que minha estrada teria sido mais lisinha se eu tivesse convivido artisticamente com a Rede Globo. Lamentavelmente, alguns diretores não me perdoam por eu ter tido, quando necessário, a petulância de contestar, protestar, apresentar o contraditório da minha visão. Seriam estradas bem mais pavimentadas com o apoio da Globo. Imagina sobreviver 50 anos sem isso? É um milagre. Tenho a amizade do Silvio Santos, do Raul Gil, que parece que há dois anos me abandonou, da Sônia Abrão, da Gazeta.
iG: Como você escolheu o repertório e os convidados?
Agnaldo Timóteo: Meu produtor, o Thiago Marques (que os escolheu). Ele é um pouco vaidoso, um pouco elitista. Vou abrir o meu show cantando, pela primeira vez, "Azul da Cor do Mar". Logo depois cantarei uma canção profundamente emocional, porque faz parte do meu passado de 50 anos, que é "Jovens Tardes de Domingo". Eu participava da jovem guarda. Eu cantava músicas internacionais, como "The House of the Rising Sun", do Animals.
iG: Você está preocupado com o visual do DVD?
Agnaldo Timóteo: Me entristece quando o artista aparece com um tênis sujo, acho uma imundície, o artista não tem o direito. Mandei fazer um blazer e vou usar um smoking preto. São roupas decentes, nada sofisticado. O público tem o direito de ver o artista vestido decentemente. Fico em pânico com as roupas horrorosas de hoje, do que fizeram com a juventude.
iG: Do que você sente mais saudade do começo da carreira?
Agnaldo Timóteo: Fui calouro, em Caratinga, em Governador Valadares e em Belo Horizonte, e fui gongado. Insisti porque tinha muita confiança no privilégio da voz que Deus me deu. Trabalhando como torneiro mecânico, fui cantando nos programas de calouros. São 64 discos gravados. Evidentemente, o momento mais importante foi minha espera por uma oportunidade real durante nove anos. Minha preocupação para cuidar da minha mãe. Sé em 1965 pude dar à minha família uma vida. Depois do "Rio Hit Parede", as portas se abriram por inteiro. Não tive um empresário para administrar a carreira, briguei com pessoas, não atendi a orientações, não soube fazer nenhum tipo de investimento, não tenho empresa que não seja da minha voz. Mas é bastante para que tenhamos uma vida decente, não tenho do que me queixar.
iG: Você gosta dos novos artistas de música brasileira?
Agnaldo Timóteo: Tenho visto e gostado do Thiaguinho. Às vezes, acho que ele extrapola na tonalidade das canções. Alguns artistas são maravilhosos, como o Zezé di Camargo, o Xororó, Bruno e Marrone. Mas, recentemente, nossos artistas pensam mais pela aparência que pelo conteúdo. Muitos fazem sucesso porque são muito bonitos, mas as músicas, às vezes, são muito vulgares. São bonitos, têm estrutura para fazer sucesso. Hoje é funk e rap, alguns de péssima qualidade, a maioria declama, não canta, letras raramente com linguagem de bom nível. Se há erro ou não de concordância ou verbo, eles não estão nem aí. Continuo tendo o Roberto Carlos como "Rei", apesar dos 70 e poucos anos, ele é a maior celebridade. Roberto, eu, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol e Nilton César estamos sem substitutos na música brasileira.
iG: Por que isso acontece?
Agnaldo Timóteo: Você tem de ter um estilo, não é só cantar. Tem de ter um estilo que se coloque de maneira destacada. Hoje está muito vulgar. Os gestos no palco são lamentáveis. Alguns jovens fazem gestos profundamente obscenos, como se não tivessem pais, sobrinhos etc. São gestos como se estivessem transando no motel. Isso me incomoda, porque as crianças não precisam ser agredidas com coreografias vulgares. Um dia desses vi um menino que foi no (programa do) Ratinho. Ele cantou como se estivesse em uma cama, absolutamente desnecessário.
iG: Após gravar o DVD, o que você planeja fazer?
Agnaldo Timóteo: Vou cantar quatro músicas sertanejas para fazer um compacto duplo. Vou para a rua autografar meus CDs, vendê-los em praça pública e dar uma aula para as gravadoras. Vou mostrar que é fácil vender discos desde que haja promoção, desde que queiram. Depois que perdi a eleição no Rio (para vereador no ano 2000), fui para a rua e vendi 100 mil CDs. Ponho uma mesa em uma praça onde tenha pedestres, com um som que não incomode, para ir mostrando os pedacinhos das músicas. Autografando e tirando foto. Sempre querem uma fotografia.