Susan Souza
Documentário acompanha o lado da perícia criminal e o dos artistas que fazem sucesso com letras sobre narcotráficoAs imagens são impactantes desde o primeiro minuto e é preciso ter estômago forte para assistir ao documentário "Narco Cultura", do diretor Shaul Schwarz. O longa está em cartaz no festival de documentários musicais In-Edit, que acontece em São Paulo até 11 de maio e em Salvador de 12 a 18 de maio.
Cenas de 'Narco Cultura'
Foto: Divulgação
Cenas de 'Narco Cultura'
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Cenas de 'Narco Cultura'
Foto: Divulgação
O longa "Narco Cultura" costura duas realidades coexistentes no México a partir dos pontos de vista de um perito criminalista que vive e trabalha na cidade de Juárez e de um cantor de "narcocorridos" que vive em El Paso, do outro lado da fronteira, já nos Estados Unidos.
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Apesar dos poucos quilômetros que separam as cidades, um abismo de violência afasta as fronteiras. Juárez é uma cidade dominada pelo crime organizado e lidera o ranking de maior violência no México.
Em El Paso, o índice de criminalidade é tido como um dos menores dos Estados Unidos, sendo a cidade um sonho de alguns mexicanos assombrados pela violência de Juárez, onde o número de mortos em decorrência do crime já ultrapassam os 60 mil desde 2006.
"CSI" da vida real
A princípio, "Narco Cultura" chega a se parecer com um filme ou série de investigação policial. A cumplicidade da câmera ao entrar em necrotérios, autópsias, cenas de crimes e de shows dos artistas de "narcocorridos" são cruas e impressionam.
De um lado, traficantes e outros envolvidos no esquema não escondem o rosto, o discurso violento, as drogas ou as armas. Há um tipo de orgulho, prazer e necessidade de demonstração de poder, exaltadas pela lente do documentarista e pelos artistas que cantam os "corridos" mais violentos.
Do outro lado, o retrato de uma polícia mexicana amedrontada e oprimida pelos chefes dos carteis, que se vê obrigada a renunciar sob as ameaças ou a trabalhar com os rostos cobertos por máscaras.
A exaltação do crime
As letras de "narcocorridos" lembram o "funk proibidão" brasileiro na exaltação da violência. A expressão cultural do crime, como mostra o filme, tem um público que sabe as letras e que valoriza "figurões do narco", como o traficante "El Chapo" Guzmán, do cartel de Sinaloa.
A inspiração para as composições, explicam os autores, vem de histórias mostradas por sites ilegais que exaltam os "narcos" e de cenas sangrentas que a cidade de Juárez e outras localidades comandadas pelo crime organizado veem em seu dia a dia, narradas no noticiário.
Com a ambição de ser algo como "o próximo hip hop", como conta um entrevistado, a cena conhecida como "movimento alterado" tem entre seus principais nomes o cantor El Komander e o grupo Buknas de Culiacán, entre outros.
O vocalista do Buknas é um dos pontos de vista do documentário, por compartilhar tanto sua vida pessoal quanto seu sucesso artístico como um propagador da cultura "narco".
Proibido pelo governo, mas aprovado pelos carteis, o documentarista mostra como nascem os filmes, os clipes, os discos e todo o estilo de vida "narco", além das roupas e de outros produtos endossados pelos artistas.
Em São Paulo, o In-Edit exibe o longa neste domingo (4), às 18h30, na Cinemateca. Saiba mais sobre o festival aqui.