Susan Souza
Diretor independente trabalha nos projetos "Obá, Obá, Obá", que une Copa do Mundo a músicas de Jorge Ben Jor, e "Híbridos", sobre cultos religiosos no País; Leia entrevistaEspecializado em filmes musicais de estética delicada e em cenários inusitados, como o famoso vídeo do Arcade Fire tocando dentro de um elevador, o cineasta francês Vincent Moon, nome artístico de Mathieu Saura, passa uma de suas maiores temporadas no Brasil trabalhando em projetos que afirmam sua empolgação pelo País.
Vincent Moon
Foto: Philippe Lebruman/Divulgação
Vincent Moon
Foto: Antje Taiga Jandrig/Divulgação
Vincent Moon
Foto: Christian Ghezzi/Divulgação
Vincent Moon em gravação
Foto: Jetmir Idrizi/Divulgação
Vincent Moon em gravação
Foto: Eugene Shimalsky/Divulgação
"Gosto do Brasil porque, em minha opinião, é o país mais rico que já visitei, em termos de diversidade de cultura. E isso continua a mudar, e irá por um tempo. O equilíbrio entre a diversidade de culturas locais e a unidade da identidade é um aspecto muito fascinante", diz ao iG.
Jorge Ben Jor e o País do futebol
Durante a Copa do Mundo, Moon está envolvido com a captação de imagens para "Obá, Obá, Obá", que tem na equipe os também franceses Benjamin Rassat e Pierre Barouh. Em 1969, Barouh dirigiu "Saravah", documentário musical que registrou um encontro promissor entre o samba, a bossa-nova e a MPB em sessões com Pixinguinha, João da Baiana, Paulinho da Viola, Baden Powell e uma jovem Maria Bethânia.
Quase que como uma continuação de "Saravah", mas com direção de Rassat, em "Obá" os cineastas revisitam o repertório de Jorge Ben Jor na voz de artistas locais pouco conhecidos, sem deixar de aproveitar o clima proporcionado pela Copa do Mundo com gravações pelas cidades-sede do Mundial. O futebol é um tema de músicas de Ben Jor, como “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)” e “Fio Maravilha”.
Algumas das bandas nacionais que participam são a mineira Graveola e o Lixo Polifônico, que interpreta "Porque É Proibido Pisar Na Grama", a banda amazonense Os Tucumanus tocando "Cinco minutos", a Orquestra de Câmara do Amazonas, sob regência de Marcelo de Jesus, interpretando “Errare Humanum Est”, entre outros artistas.
"Híbridos"
Depois da Copa do Mundo e do fim dos compromissos com Benjamin Rassat e Pierre Barouh, Vincent Moon ficará dedicado ao longa "Híbridos", realizado em parceria com Priscilla Telmon. Moon cuida da captação das imagens enquanto que Telmon faz o som e as fotografias still.
O projeto é focado em retratar rituais religiosos de várias regiões do Brasil. Uma empreitada diferente para Moon, que passou anos empenhado em mostrar expressões musicais em projetos como a série "Take Away Shows", que gravava e dirigia para o site francês La Blogothèque, e a coleção "Petites Planètes", que o fez viajar o mundo registrando como a música é feita em diversos países.
Em "Híbridos", Moon se debruça na busca de rituais. "É um projeto sobre o sincretismo do sagrado em diferentes camadas da sociedade brasileira", define, explicando que esta é a primeira vez que pretende ficar tanto tempo no Brasil. Por enquanto, ele conta que estabeleceu o prazo de um ano para captar "do candomblé ao xamanismo, a espiritualidade em todos os níveis".
Vídeos independentes
Vincent Moon trabalha de maneira independente (apesar da vasta experiência que lhe garantiria bons patrocínios) e dos documentários musicais bem conceituados em seu currículo. "Burning", sobre a banda Mogwai, "An Island", sobre o Efterlang, "Miroir Noir", sobre o Arcade Fire, e "This Is Not a Show", do R.E.M, estão entre eles.
"Continuo trabalhando de maneira independente porque gosto da liberdade que isso dá. Como não faço esses filmes para ficar rico ou famoso, tenho a oportunidade de desenvolver minha própria linguagem sem nenhum aspecto comercial envolvido", explica. Suas produções estão na internet, gratuitamente, como uma característica regular de seu trabalho.
Conexões com o Brasil
As ligações de Vincent Moon com o País são vastas. Além de trabalhar em "Obá, Obá, Obá" e "Híbridos", anteriormente gravou performances de artistas nacionais que entraram para o projeto "Collection Petites Planètes", disponíveis no site do diretor.
O Brasil aparece em várias séries, como as sessões de "Sons do Rio de Janeiro", que contaram com Elza Soares, Ney Matogrosso e outros artistas; "Sons de São Paulo", com Tom Zé e outros; "Brasil Zona Norte", com Gaby Amarantos e mais nomes.
Em 2013, voltou para o País para fazer a série "Sons do Brasil", captando performances de Yamandu Costa, Criolo, Raízes Caboclas, Roberto Menescal e mais nomes. "Sou obcecado pelo Brasil." Com tantas imersões para dentro da cultura brasileira, não há como duvidar de uma obsessão tão prolífica e benéfica deste inquieto parisiense de 34 anos.