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Novo disco revela valsas secretas de Luiz Gonzaga

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Fernanda Aranda

Quinze composições do rei do baião entre 1940 e 1950 ganharam letras e vozes de Gereba Barreto, Gilberto Gil, Elba Ramalho e Lenine, entre outros

Os “dois pra lá dois pra cá” que coreografam as músicas de Luiz Gonzaga e o coroaram como rei do baião agora podem embalar outros ritmos. Valsas e choros, feitos pelo centenário Gonzagão e escondidos na extensa produção artística do mestre do forró, foram descobertos e, agora revelados, pelo o músico e produtor Gereba Barreto.

Os achados, gravados em disco 78 rotações e perdidos no acervo do sítio em Exu, cidade pernambucana onde há 100 anos nasceu Gonzaga, acabam de virar o álbum “Luas do Gonzaga” (Gravadora Tratore), lançado em Salvador (Bahia). Sai de cena o arrasta pé e entram 15 músicas inéditas, criadas entre os anos 1941 e 1953, que tocam outra praia do sanfoneiro até então preservada do grande público.

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Os acordes ganharam letras e vozes de Gilberto Gil, Zeca Baleiro, Fagner, Lenine, Margareth Menezes, Elba Ramalho, Lirinha, Dominguinhos, Jorge Vercillo, entre outros, convidados por Barreto para ingressarem no projeto.

Gereba Barreto, amigo de Gonzaga, conta que a semente do projeto foi plantada em 1985, durante a festa de 73 anos de Luiz Gonzaga (que durou 4 dias).

“Além da sanfona, Gonzaga também usava violão para compor as músicas que não apresentava às plateias. Ele tinha medo de não agradar com outros estilos. Mas na festa do seu aniversário em 1985 ele confidenciou que tinha vontade de ir além do rótulo de forrozeiro. Para minha surpresa, mostrou valsas, choros e maracatus compostos por ele, que estavam escondidos e eram de uma qualidade emocionante”, lembra.

Este lado B de Gonzaga tocou na cabeça de Gereba por 27 anos. O músico conta que tinha como um dos pontos de partida para revelar as valsas e choros secretos do rei do sertão uma letra feita por Gilberto Gil, escrita em um guardanapo, durante a mesma festa em 1985.

“Gil escreveu ’13 de Dezembro’ (data de nascimento de Luis Gonzaga) pouco antes dos convidados chegarem, entre eles eu - que viajei 700 quilômetros de ônibus para estar em Exu. Por volta da meia noite, Gil apareceu com um pedacinho de papel na mão, pegou o violão e cantou '13 de Dezembro'”, conta Gereba Barreto.

Os versos casavam com um dos choros escondidos de Gonzaga. Feito. Se algum dia aquela produção musical do homem do xaxado saísse do armário, sonhava Gereba, a música que abriria o disco já estava completa.

Gilberto Gil, de bate pronto, aceitou “chorar” junto com Gonzagão e abre o álbum "Luas do Gonzaga". “Eu tive um enorme prazer em participar desse projeto do Gereba. Gonzaga fez só o instrumental do choro em 1950 e pouco, e no dia do seu aniversário, quase 30 anos depois, eu fiz a letra. Quando amanheceu o dia, mostrei para o Gonzaga”, contou Gil em uma das fitas cassetes gravadas por Gereba para dar forma ao projeto.

“Depois do Gil, comecei a pensar em poetas contemporâneos que poderiam dar letras e vozes para as outras 14 composições instrumentais de Gonzaga”, conta Gereba. “Há cinco anos, o projeto ganhou fôlego, apesar das dificuldades com os direitos autorais, negociados com família e gravadoras. Pensava em qual letrista combinaria mais com os acordes. A proposta de parceria era aceita de imediato. Todos os convidados diziam estar emocionados por tornarem-se parceiros, ainda que póstumos, de Luiz Gonzaga.”

Zeca Baleiro escreveu a letra para a valsa "Mara", assim batizada por Gonzaga nos anos 1940. Em uma coincidência, essa música é o nome da mulher de Baleiro - a musa inspiradora de Gonzaga rendeu as estrofes para a musa de Baleiro: “Se as estrelas me ouvissem/ Eu pedia o amor de Mara/ Amoras no caminho/ Ó vida tão amara”. A letra é acompanhada pelas sanfonas de Dominguinhos.

“Foi uma honra sem tamanho tornar-me parceiro do Lua (apelido de Luiz Gonzaga), ainda que postumamente. Espero que, lá de onde ele está agora, tenha aprovado minha letra sem restrições", deseja Baleiro.

Já Lenine e Margareth Menezes cantam em dupla o maracatu “Rei Bantu” A batida diferente do forró, afirma Margareth, confirma que Gonzaga era mesmo uma “universidade melódica”, como ela deixou registrada a definição do rei do baião pouco antes da gravação da música.

Antes de dar voz para as estrofes “Meu avô lá no Congo/ Foi rei Bantu/ Mas aqui eu sou o Rei do Maracatu”, Lenine - que aponta Gonzaga como um divulgador da expressão nordestina - pediu uma permissão prontamente concedida por Gereba. “Lenine quis inserir fragmentos das cantigas infantis e tradicionais de Pernambuco no meio da música. Ficou lindo. Elas ajudam a revelar o maracatu de Luiz Gonzaga.”

As contribuições dos convidados foram além das inserções nas letras. Gereba Barreto afirma que os artistas ofereceram, gratuitamente, seus estúdios para as gravações, como fez Elba Ramalho, para gravar a faixa “Passeando em Paris”, e Jair Rodrigues, para cantarolar “Marieta”, com letra de Fernando Brant.

“É um disco coletivo, gravado no Brasil inteiro, costurado pela amizade”, define Barreto. Um presente para os 100 anos de Luiz Gonzaga, diz o amigo, e a prova de que os “dois pra lá, dois pra cá” podem ser a coreografia das valsas secretas do rei do baião.


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