Susan Souza
Cantor fala ao iG sobre a gravação de um disco só com músicas dos compositores; repertório prioriza sucessos da jovem guarda"A quantidade de casamentos e separações amorosas que tiveram as canções de Roberto e Erasmo em comum é imensa", reflete Lulu Santos, em entrevista ao iG, sobre o repertório de 13 músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que ele gravou. "A escolha das faixas foi totalmente de memórias pessoais", explica.
O disco "Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo" passeia pela discografia dos compositores que se tornaram sucesso com a jovem guarda, nos anos 1960. "Aquilo era o Brasil respondendo à década de 1950 norte-americana e criando uma coisa que não levava Beatles e Rolling Stones em consideração", analisa o cantor carioca.
Músicas como “As Curvas da Estrada de Santos”, “Minha Fama de Mau”, “Festa de Arromba” e “É Preciso Saber Viver” estão no disco e no atual setlist dos shows. "Roberto e Erasmo têm pelo menos três gerações de contribuição em educação sentimental", define Lulu, aos 60 anos, sobre seu primeiro trabalho apenas como intérprete.
iG: Qual foi o critério que você usou para escolher as faixas?
Lulu Santos: A escolha foi totalmente de memórias e do que me lembro do tanto que eles foram importantes na minha formação. Dois eventos balizam isso. Quando eu tinha 11 anos, meu tio publicitário me levou para assistir a uma transmissão do programa da jovem guarda. Aquilo foi transformador. Corta para 50 anos depois, na cerimônia do Roberto Carlos para comemorar os 50 anos da carreira dele. Quando o Roberto e o Erasmo começaram a cantar juntos, aquilo me emocionou. Pouco tempo depois, veio o convite para fazer o projeto de tocar um repertório diferente do meu. Quando o Roberto viu o show no Rio, ele ficou tão emocionado que me deu uma autorização para gravar, o que é bem raro vindo dele.
iG: Qual é a maior contribuição de Roberto e Erasmo para a música nacional?
Lulu Santos: Sem eles, não haveria todo um pop-rock brasileiro. Foram eles que abriram esse canal com “Minha Fama de Mau”, que é uma das primeiras, se não a primeira, composição em rock em roll feita no Brasil. Aquilo era o Brasil respondendo à década de 1950 norte-americana e criando uma coisa que não levava Beatles e Stones em consideração. Isso que eles fizeram continuou na minha geração e nas seguintes até chegar em grupos como o Restart e NX Zero, que têm pelo menos três gerações de contribuição em educação sentimental. A quantidade de casamentos e separações amorosas que tiveram as canções de Roberto e Erasmo em comum é imensa. E acho que a declaração de amor mais precisa, compacta e eficiente que se tem é a música “Como é Grande o Meu Amor Por Você".
iG: Tem outro artista que você gostaria de regravar em disco?
Lulu Santos: Na verdade, não são poucos, mas tenho que adiantar minha própria carreira. Tenho todo um disco em finalização que estou regravando. Meu próximo passo é reacender minha própria lampadinha e retomar meu discurso, porque já faz três anos sem lançar um disco meu.
iG: Você tem escutado novos músicos brasileiros?
Lulu Santos: Tenho ouvido muitas manifestações variadas e coisas que me interessam além do rock. Vejo o programa “Experimente” (do canal pago Multishow) e vejo o que a cena independente está buscando. Vi o Criolo em uma transmissão do Lollapalooza e fiquei impressionado, gostei da atitude do personagem e da clareza, teatralmente, que faz aquilo atravessar. Acho interessante o trabalho do Pretinho da Serrinha e a relação verdadeira que ele tem com as tradições africanas e rítmicas. Acho que ele é uma riqueza.
Lulu Santos comemora 60 anos neste sábado (4)
Foto: AgNews
O cantor em apresentação no Pier Mauá
Foto: Ag News
Lulu Santos na capa de seu disco 'Tudo Azul', de 1984
Foto: Divulgação
O cantor na capa de seu disco 'Normal', de 1985
Foto: Divulgação
Lulu Santos se apresenta no Viradão Carioca
Foto: Fred Leal
Lulu Santos
Foto: Divulgação
Lulu Santos, Carlinhos Brown e Daniel, jurados do 'The Voice Brasil'
Foto: Valmir Moratelli
Lulu Santos canta ao lado de time feminino no "Altas Horas"
Foto: TV Globo/Zé Paulo Cardeal
Lulu Santos canta ao lado de time feminino no "Altas Horas"
Foto: TV Globo/Zé Paulo Cardeal
iG: Sua experiência no programa The Voice mudou algo em sua visão de mercado fonográfico brasileiro?
Lulu Santos: Não, só me mostrou como é a experiência televisiva, eu vi mais de perto como funciona e qual é o resultado da exposição intensa, a naturalidade com que as pessoas fazem aquilo diariamente ou semanalmente, com uma tranquilidade muito grande. Sobre o mercado, a essa altura eu já tenho minhas próprias sensações.
iG: Quais seriam?
Lulu Santos: Eu não faria uma escolha calculada para selecionar um sertanejo universitário porque, talvez, essa seja a bola da vez para o mercado. Eu preferiria usar minha própria expertise para representar meu segmento.
iG: Que dica você daria aos músicos principiantes no Brasil?
Lulu Santos: Talvez o interessante seja se interessar pelos nossos próprios meios, por nossas raízes. O Brasil, finalmente, está conseguindo olhar para si, nem que seja pelo espelho do interesse internacional com os novos eventos como a Copa do Mundo e a nova economia.