Susan Souza
Cantor e compositor baiano fala sobre o EP "Tribunal do Feicebuqui", no qual rebate as críticas recebidas por participar de anúncio da Coca-ColaCríticas enviadas pela internet deixaram Tom Zé preocupado. Depois de ter gravado a locução de um anúncio da Coca-Cola, fãs se voltaram contra o cantor nas redes sociais, que foi imediatamente tachado de "Tom Zé bundão", "vendido" e "traidor". Esses xingamentos inspiraram as letras do EP recém-lançado "Tribunal do Feicebuqui".
Com o incentivo do jornalista Marcus Preto, que escreve uma biografia sobre Tom Zé, novos artistas brasileiros foram convidados a ajudar na criação de uma espécie de resposta musicalmente bem-humorada. Emicida, Filarmônica de Pasárgada, Tatá Aeroplano, O Terno e Trupe Chá de Boldo ajudaram este senhor de 76 anos nascido em Irará (Bahia).
Tom Zé admitiu sentir-se incomodado com a postura negativa de parte dos fãs: "Fico preocupado, porque estou acostumado a cantar com o público ao meu lado", disse em entrevista ao iG.
Ouça a faixa "Zé a Zero":
Da colaboração criativa nasceram cinco músicas em um processo tão veloz quanto a internet. As letras "relatam a raiva do público com palavras literais", explica Marcelo Segreto, que também é integrante da Filarmônica de Pasárgada. "O Tom fez um arquivo com as mensagens negativas e positivas que recebeu pela internet e nós [compositores] tínhamos que xingá-lo na música", explicou, referindo-se à letra que dá nome ao EP "Tribunal do Feicebuqui". Com o toque final característico do artista, há muitas brincadeiras com sílabas e aliterações. "O jeito do Tom compor foi muito legal de ver, porque ele inventa novas palavras", destaca Marcelo.
Tom Zé já vislumbra um disco completo para o segundo semestre, que deve ser feito com as mesmas parcerias musicais do EP. Já o cachê do anúncio da Coca-Cola, diz o cantor, será doado para a banda de música de Irará, cidade natal onde ele pretende fazer o lançamento do álbum.
Leia abaixo a entrevista que Tom Zé concedeu ao iG.
O cantor e compositor Tom Zé
Foto: Andre Conti/Divulgação
O cantor Tom Zé em show em 2005
Foto: AE
Tom Zé durante show em 2005
Foto: AE
Tom Zé grava CD e DVD em São Paulo
Foto: Augusto Gomes
Tom Zé grava CD e DVD em São Paulo
Foto: Augusto Gomes
Tom Zé grava CD e DVD em São Paulo
Foto: Augusto Gomes
Tom Zé em sua casa
Foto: AE
O cantor Tom Zé
Foto: Divulgação
Tom Zé em cena do documentário 'Tropicália'
Foto: Reprodução
Tom Zé na Virada Cultural
Foto: Marco Tomazzoni
Tom Zé e os colaboradores do EP "Tribunal do Feicebuqui"
Foto: Divulgação
Tom Zé nas gravações de "Tribunal do Feicebuqui"
Foto: Divulgação
Tom Zé grava CD e DVD em São Paulo
Foto: Augusto Gomes
iG: Você continua lendo os comentários que as pessoas mandam para a sua página na internet?
Tom Zé: Eu passo a vista diariamente para ter uma ideia, um balanço de como as coisas vão porque, geralmente, a opinião da população vai mudando. Eu fico preocupado, porque estou acostumado a cantar com o público ao meu lado. Nas músicas, botei as expressões que eles usaram, como "Tom Zé bundão". As pessoas estavam com raiva.
iG: Por que você acha que elas pegaram pesado?
Tom Zé: Acho que na hora de explosão qualquer um de nós fala desse jeito. Respeito tanto quem fala bem quanto quem fala mal. Sou contra a palavra "patrulhamento". Eu tenho patrão, sempre trabalhei para ele e me deram essa situação na vida. Quando eu passo na esquina, alguém vai falar: "Lá vai Tom Zé com o sapato que eu dei a ele". Se eu gravar um anúncio da Coca-Cola alguém vai dizer: "Lá vai Tom Zé gravar um anúncio da Cola-Cola com o prestígio que eu dei a ele". Tudo o que eu tenho foram eles [os fãs] que me deram.
iG: Você participaria de outros comerciais de empresas grandes?
Tom Zé: Não sei. Em cada momento as coisas podem ser diferentes, termos outros objetivos. Estamos tentando um patrocínio para todas as bandas [que participaram do projeto] irem tocar em Irará, mas a prefeitura de lá não tem rendimento. Tem de vir de alguma empresa, mas menos de álcool e droga porque dessas eu não faço propaganda.
iG: Tem alguma outra resposta que você gostaria de ter enviado em forma de música, mas que ainda não teve a oportunidade?
Tom Zé: Surgiram tantas, tem vários motivos. O jeito que o Brasil está jogando futebol. Morro de paixão de escrever sobre a vaidade com que os jogadores estão procedendo, os políticos que estão advogando em causa própria... Há milhões de outras coisas que eu teria paixão de escrever, mas acabo não conseguindo energia.
iG: O que você acha da atual cena musical brasileira?
Tom Zé: Eu tenho horror à música, porque são os meus concorrentes. Não ouço música popular brasileira na hora de descanso, porque se for ouvir mais música, não dou conta. Ouço futebol. Esses contatos com a juventude [para gravação do EP] foram extremamente excitantes. O Ezra Pound [poeta e crítico do movimento modernista] dizia que quando a poesia começa a fraquejar, é sinal de que o país vai perder o comado de si mesmo. No Brasil, a música popular é tão forte quanto a poesia e tem uma divulgação imensa. Vendo esses músicos populares que vi agora, tenho a esperança de que meus netos vão ver um Brasil com grande capacidade de comando e orientação filosófica.